Ontem tivemos uma ideia de como será o novo normal no futebol profissional quando o Campeonato Alemão (Bundesliga) deu continuidade a sua temporada com portões fechados. Enquanto eu assistia ao clássico do Ruhr (Revierderby) entre o Borussia Dortmund e o Schalke 04 a minha primeira impressão foi de que aquele jogo se parecia muito mais com um treino com portões fechados, ou quem sabe um amistoso pré-temporada.
Esse sentimento me fez pensar o porquê de eu associar aquele jogo de futebol profissional a qualquer outra coisa que não fosse um jogo válido pelo Campeonato Alemão propriamente dito. Talvez a maneira mais fácil e simples de se explicar seria usar aquela máxima de que futebol sem torcida não é futebol. Mas não foi somente a falta da torcida, seus cantos e gritos que me chamou atenção. Foi algo mais.
Anteriormente no nosso saudoso normal de transmissões esportivas o barulho feito pelos torcedores silenciava outros atores nesse grande teatro que chamamos de estádio. As vozes de treinadores, jogadores, e até mesmo juízes e auxiliares não eram parte central dessa performance. No nosso novo normal de transmissões esportivas podemos dizer que novos aspectos aos quais não estamos normalmente acostumados a presenciar se fazem presentes no frontstage.
De certa forma, o novo normal das performances teatrais é um amálgama de elementos do frontstage e backstage tradicionais. Esse novo normal permite aos telespectadores uma visão de por trás das cameras ao qual não estamos acostumados nas transmissões de futebol [talvez mais acostumados em transmissões de tênis onde a torcida está em silêncio].
Assim, o novo normal é uma mistura dos modelos tradicionais de transmissão esportiva com um gênero que ultimamente se popularizou: documentários por trás das cameras como o The Last Dance e o The Least Expected Day: Inside the Movistar Team 2019 que foram lançados esse ano no Netflix.
Talvez também possamos pensar esse novo normal das transmissões esportivas como a variante da Live – outro gênero altamente popular no Brasil. Uma performance altamente produzida mas ainda sem a presença de um dos atores nesse grande teatro interativo.
Mas fica uma questão fundamental: será que estamos mais interessados em consumir essa performance extra de jogadores, treinadores, juizes e auxiliares e perder a performance da platéia nos estádios? Ou será que essa platéia é um elemento essencial nesse teatro interativo que conhecemos como futebol profissional?
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