Seria o Brasileirão o melhor campeonato de futebol no mundo?

Ano passado após um Grêmio x Santos na Arena do Grêmio em Porto Alegre, o treinador da Seleção Brasileira – Tite – concedeu uma entrevista enaltecendo o jogo que acabara de assistir e também dando uma observação bombástica de que o Campeonato Brasileiro (Brasileirão) seria o terceiro melhor campeonato de futebol no mundo (GloboEsporte, 2019). Essa afirmação do Tite esteve no topo da agenda de praticamente todos cronistas esportivos brasileiros e foi alvo de inúmeras discussões em programas de debate esportivo (ESPN, 2019a), onde alguns concordavam e outros discordavam (ESPN, 2019b).

Usando essa afirmação do Tite como pano de fundo, eu e um colega na Leeds Beckett University (Dr Francesco Addesa) fomos investigar como o Brasileirão se compara à outras ligas de futebol pelo mundo. Para tal a gente utilizou as teorias de Equilíbrio Competitivo para analisar se o Brasileirão poderia ser considerado como um das melhores campeonatos de futebol do mundo – quiçá a melhor liga. Na nossa análise a gente coletou dados dos Brasileirões de 2003 a 2018 – quando começaram as disputas por pontos corridos – e também dados de 5 ligas européias (Premier League – ENG; Serie A – ITA; Bundesliga – GER; Ligue 1 – FRA; La Liga – ESP) e da Primera División Argentina.

E o que encontramos?

Usando na nossa primeira análise o coeficiente de Herfindahl-Hirschmann – que mede a concentração de mercado – encontramos que o Brasileirão é a liga mais competitiva entre as 7 analisadas. Um resultado de 1 no coeficiente Herfindahl-Hirschmann significaria que teríamos um campeão diferente a cada ano (maior equilíbrio), e o Brasileirão entre 2003 e 2018 gerou um resultado de 2.75. E em relação às outras ligas? Temos a Bundesliga como a mais concentrada – menor número de campeões diferentes – com um coeficiente Herfindahl-Hirschmann de 8.00, depois a Serie A italiana com 7.50, e a La Liga espanhola com 6.75. As outras três ligas (Premier League, Ligue 1, Primera División) apresentaram resultados muito semelhantes – 4.50, 4.13, 4.07 respectivamente.

Um problema nessas comparações entre diferentes ligas pelo mundo é o fato de que algumas possuem mais times que outras, e assim o número de pontos a serem disputados varia de liga para liga. Assim, a gente ajustou a análise e mesmo assim o Brasileirão seguiu como o campeonato mais competitivo. A nossa última análise olhou para o número de pontos conquistados dos 5 primeiros colocados em relação ao restante dos times na tabela. E o Brasileirão foi o campeonato que mais se aproximou de uma liga com um competitive balance perfeito, onde em média entre 2003-2018 foi somente 28.9% abaixo de uma competição ideal. Outras ligas variaram entre 35.11% (Ligue 1) e 48.88% (Premier League).

Com base nesses resultados a gente começou a acreditar que o Brasileirão seria mesmo a melhor liga do mundo – não somente a terceira como colocou o Tite. Mas será que poderíamos encontrar alguma outra variável única ao Brasileirão que explicaria ele ser a liga mais competitiva do mundo?

Uma opção que pensamos é de que o Brasileirão seria o único entre as 7 ligas onde o campeonato é dividido ao meio, no sentido de que temos a janela de transferências acontecendo bem durante a competição. Será que a janela de transferências teria alguma influência no equilíbrio competitivo do Brasileirão?

E qual foi a nossa surpresa quando fizemos a mesma análise mas dividindo o Brasileirão entre “antes da janela” e “após a janela”? Que ele é o campeonato mais desequilibrado entre todos baseado no resultado ajustado, e o segundo menos competitivo (atrás apenas da Premier League) usando o número de pontos conquistados pelos 5 primeiros da tabela.

Ou seja, a janela de transferências ocorrendo durante o Campeonato Brasileiro serve por transformar ele na liga mais competitiva do mundo. Talvez uma razão seja de que os atletas que se destacam durante o primeiro semestre do ano – e assim ajudam seus clubes a atingirem o topo da tabela – são negociados para o mercado externo e o campeonato se nivela naturalmente após o final da janela de transferências. Talvez possamos dizer que o mercado acaba se auto-regulando em direção a um cenário de competição ideal.

Agora fica a pergunta: será que se adequar ao calendário europeu seria realmente benéfico ao Brasileirão?

Pelo menos no sentido de equilíbrio competitivo podemos dizer que não!

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