Há um mês eu escrevi um post refletindo sobre como as esferas políticas e esportivas estão sempre em constante contato, em especial pela politização por parte das celebridades-políticas de mega-eventos esportivos como o Super Bowl LIV. Mas naquele post o foco principal foi sobre o embate político que acontece numa arena em específico – a Norte-Americana. Seria possível encontrar outros momentos – tal qual eu e o Billy Graeff escrevemos sobre o Pelé, Ronaldo, e Romário e a Copa de 2014 – onde outros atores políticos se utilizam do esporte e das mídias sociais como plataforma para inflamarem suas bases?
Usando a mesma rede – os mesmos nós e linhas – do post sobre a disrupção digital no esporte mas visualizada através de outros algoritmos é possível ver como alguns atores políticos se fazem presentes no UFC 229 McGregor v Khabib. Dessa vez o tamanho dos nós reflete o número de seguidores no Twitter de cada usuário e as cores das linhas refletem o tipo de tuíte: retweet (roxo), mention (laranja), quote (verde).

É possível perceber através dessa rede como diversas celebridades se associam ao evento esportivo, sejam elas do showbiz, esportivas, do mundo dos negócios, ou políticas. Em relação ao primeiro grupo podemos ver a cantora americana Katy Perry, o ator de Bollywood Varun Dhawan e o mexicano Omar Chaparro, e até mesmo o “humorista” brasileiro Rafinha Bastos. No segundo grupo temos Ronaldinho Gaúcho e o jogador de cricket indiano Virat Kohli. Já no terceiro temos um personagem interessante – o ex-CEO da T-Mobile USA que já havia entrado em atrito através do Twitter com Donald Trump – John Legere.
Mas o interessante para mim é o fato que ambos os presidentes Donald Trump (Estados Unidos) e Jair Bolsonaro (Brasil) se fazem presentes nessa rede (circulados em amarelo). Essas aproximações – tal qual eu e o Billy Graeff escrevemos sobre os três ex-jogadores e a Copa de 2014 – entre celebridades-políticas e eventos esportivos permitem que estas fortaleçam seu capital político junto à suas bases. Como o jornalista Karim Zidan escreveu nesse artigo no jornal inglês The Guardian as relações de Trump com o UFC e Dana White vêm de longa data.
E para mim uma forma de pensar estas relações de Trump com o UFC e por conseguinte entre Bolsonaro e o UFC é olhar sob a ótica do cristianismo muscular. Mas diferentemente do cristianismo muscular tradicional, o que estamos vendo é um exemplo do neo-cristianismo muscular sustentado por uma vasta rede evangélica de um cristianismo ultra-nacionalista. E o UFC – ou o MMA de forma geral – é a arena ideal onde os valores desse neo-cristianismo muscular se apresentam.
Assim, é impossível pensar que esporte e política não se misturam; e muito menos pensar que religião e política não se misturam. De certa forma essas esferas ditas distintas – esporte, religião, política – estão cada vez mais entranhadas umas às outras, o que fazem o ‘pensar elas em separado’ um exercício sem efeito – inócuo.